Here's a sample from one of my latest works: a foreword to a Portuguese/ English bilingual exhibition catalogue. The exhibition is titled Animália by Portuguese photographer Nuno Horta. The original text in Portuguese was written by Miguel V. Duque, who entrusted me with the English translation... Check it out!
[the original text!]
"Animália, de Nuno Horta
De olhos bem abertos. PUM!
“Um
novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei,
vós também vos deveis amar uns aos outros.”
S. João
13:34
A objectiva de Nuno Horta aspira à comoção dos
sentidos, à comunhão da fotografia retratista com paixões de um quotidiano que
se mascara, inventando e, quiçá, reinterpretando saberes e ambições que não
transcendem o Ser, antes o aprisionam em humanidade díspar entre si, em vez de
os acutilar nos seus anseios mais primários: o desejo que se mistifica e
animaliza como em metamorfoses que nos confortam e nos permitem o essencial dos
sentidos: o Prazer.
No
entanto, colore a negro – como preto fecundo do lodo deposto pelas águas do
Nilo – cenários de peças de sensualidade mácula e/ou obscura: trevas ou a noite
de todo o contentamento como o pigmento de Johann Conrad Dippel.
Verdade
ou pecado?
Fique
o espectador ante estes flashes, saboreando a abundância animália ou as tentações
de Antão ou a luxúria humana ou simplesmente a beleza e a exuberância do Ser e
do sermos! A Natureza na sua sublime Arte.
O
transcendente no real quotidiano em Leibovitz ou Nan Goldin; o transcendente
numa encenada estética artística em Witkin ou Saudek; o transcendente do real
encenado numa estética artística cerebral e empírica em fotografias de Nuno
Horta, num palco que também é vida e quotidiano.
Nesta
colecção Animália, Nuno Horta
surpreende-nos por uma atitude cénica mais simples, traduzindo uma maturidade
nos temas que interpreta, decifra e exprime na sua acção fotográfica – como
resultado, fotografias auto interpretativas – ao essencial, enfoque para
metáforas, parábolas e mistificações como narração alegórica que traduz a
devoção pelo corpo, pelo humano, pelo mito, envolvido num preceito moral que
cruza, em penumbra, o Homem e a Mulher, escudados do próprio de si, dos seus
devaneios ou anseios, por zoomorfoses.
Pecado
versus virtude ou o seu contrário? – Na virtude o pecado omisso! – Deus ou o
Demónio; o prazer ou a abstinência; a abundância ou a escassez; o Amor ou a
ausência; o desejo ou a fraude; a Vida ou a Morte; o ser ou o não ser; ou,
simplesmente, o sonegar ao Ser Humano da face, conferindo-lhe símbolos e mitos
que o resgatam das malhas de uma qualquer condenação mundana, outorgando-lhe o
direito de momentos, apenas e tanto, de animalidade, urbe ou rural, mas sempre
defendidos, esses momentos, por caprichos de uma natureza extra-humana,
permissiva e lasciva, para uma Alma Pura, que se resgata pelo sacrifício
animal, tal Dido por Eneias, Gilgamesh por Enkidu, Pedro por Inês, ou Eu –
anónimo – por Ti – ninguém ou ausência de identidade.
Em
última instância, infra-humana!
A
máscara dourada como maçãs de Hipómenes para seduzir Atalanta e resgatar o seu
Amor, cumprindo-se o desejo de posse pela corrida que se vence: suor, cansaço
e, de novo, o luxo perpectuado pelo ouro que nos inebria e entontece os
sentidos. Tal macho ou fêmea ou os contrários ou os mesmos: trocas e selos de
cumplicidade assumida e rejeitada, num lado a lado, nada ingénuo ou desprovido
de sentidos reflectidos.
Esta
colecção não é ingénua; não é apenas provocadora; também é erótica,
estimulante, sedutora e sensualmente sensitiva para olhos de Alma Pura. Para
gente que se assume sem tabus de mediocridade infame para o ser animal de que
somos feitos ou criados.
Matéria
negra que precede a Luz. Simbólica do Apocalipse ou Fiat Lux como precedência cromática da Criação. Génese e fruição de
uma fecundidade artística como nuvens escuras que fecundarão a Terra, como
elemento fecundado caracterizada pelo supremo dom de gerar: The Wolf & the
Fox; The Fox & the Wolf; The Goat; The Pig; The Tiger; The Deer!
Masked
Ball!
Ao
ouvir Jocelyn Pook, Flood, reporto-me a máscaras que interpretam o duplo papel:
vendar / desvendar. Ou seja, entendo a necessidade, na urbe actual, do Ser
Humano se confrontar com mitos passados que se reinterpretam, numa actualidade
mediática, como formas de estar, pensar e sentir de cada individuo como
demiurgo, que, possuindo os seus anseios, promove a sua atuação no palco da
Vida e do quotidiano.
Parafraseando
Susan Sontag, in Olhando o Sofrimento
dos Outros, “As intenções do fotógrafo
não determinam o sentido da fotografia, que terá a sua própria carreira,
impulsionada pelas paixões e fidelidades das diferentes comunidades que a
utilizem”. Assim acontece com os símbolos ou parábolas, neste caso,
fotografias como narração alegórica que envolve um preceito moral: Animália
como função de ilustrar o desejo e a cumplicidade numa linguagem metafórica de
criação do prazer e a respectiva recriação. Mas sem idolatria. Antes a
linguagem de humanidade!
Animália!
Tripúdio de prelúdio?
Sob
a égide do ouro: o Lobo, luxúria e ambição, animal de Poder, com enorme
capacidade para amar, mas com um carácter individualista e solitário; a Raposa,
astuta e demónio do fogo e com capacidades únicas de sedução, na China são
animais voluptuosos (curiosidade: testículos de raposa macerados no vinho eram
considerados um elixir infalível de amor) e na Ásia são símbolos eróticos; o
Bode, associado à luxúria e à fertilidade, está ligado a Pã, Dionísio e Zeus; o
Porco, para católicos é símbolo da tentação e luxúria, impuro para judeus e
muçulmanos, mas é associado também à fertilidade e à prosperidade no Antigo
Egipto e no Norte da Europa; o Tigre, impetuoso e apaixonado, representa a
beleza, a vaidade e a astúcia; o Veado, emblema solar de fertilidade, com forte
simbolismo divino, com as suas hastes representam a Árvore da Vida e a
regeneração, como fervor sexual figura ao lado de Afrodite e Adónis.
Acabo
esta minha dissertação sobre este conjunto fotográfico de obras que compõem a
colecção Animália, de Nuno Horta, com a onomatopeia:
PUM!
– de olhos bem abertos porque somos animais… e porque não? – PUM! – caçador ou
presa? – PUM! – porque cair vale a pena!
PUM! Animália! PUM!
Basta
pum basta!!!
Viva
o Amor, viva! PIM!
VIEIRA
DUQUE
Outubro de 2015"
[... and my translation into English.]
"Animália, by Nuno Horta
Eyes wide open. PUM!
“A new commandment I give unto you, That
ye love one another; as I have loved you, that ye also love one another.”
John 13:34
A lens of Nuno
Horta aspires to the commotion of the senses, to the communion of portrait
photography with passions of a daily life that masks itself, inventing and,
perhaps, reinterpreting knowledge and ambitions that do not transcend the
Being, but most of all imprison it in an unequal humanity, instead of striking
them in their most primary ambitions: the desire that mystifies and makes a
beast of itself as in the metamorphoses that comfort and allow the essence of
senses: Pleasure.
However, he colours black – like
the fertile black of the mud disposed of by the waters of the Nile
– scenarios with pieces of maculated and/or obscure sensuality: the darkness or
the night of all the contentment as the pigment of Johann Conrad Dippel.
Truth or
sin?
May the spectator remain in front of these flashes,
tasting either the animal-like abundance of the temptation of Anthony, or the
human lust, or simply the beauty and the exuberance of the Being and for
existing! The Nature in its sublime Art.
The transcendent in the real
everyday life in Leibovitz, or Nan Goldin; the transcendent in a staged
artistic aesthetic in Witkin or Saudek; the transcendent of the real staged in
a cerebral and empirical artistic aesthetics in the pictures of Nuno Horta, on
a stage that is also life and everyday.
In this collection Animália,
Nuno Horta surprises us with a more simple scenic attitude, reflecting a
maturity in the themes that he interprets, deciphers and expresses in his photo
action – as a result, self-interpretative photographs – the essential focus for
metaphors, parables and mystifications as an allegorical narration, which
translates the devotion for the body, for the human, for the myth, wrapped in a
moral precept, that crosses, in the shade, Man and Woman, away from themselves,
their daydreaming or longings, by means of zoomorphoses.
Sin versus virtue, or it’s
the opposite way? – In virtue the omitted sin! – God or Devil; pleasure or
abstinence; abundance or scarcity, Love or the absence, a desire, or fraud;
Life or Death; to be or not to be; or, simply, taking away the face of the
Human Being, giving it symbols and myths that rescue it from the meshes of any mundane
condemnation, granting him the right to have moments, nothing much, of animal
behaviour, urban or rural, but always defended, these moments, by the vagaries
of permissive and lewd extra-human nature, to a Pure Soul, who is redeemed by animal
sacrifice, such Dido for Aeneas, Gilgamesh for Enkidu, Pedro for Inês, or I –
anonymous – for You – nobody or the absence of identity.
In the last instance, the
infra-human!
The golden mask like apples
of Hippomenes to seduce Atalanta and rescue his Love, fulfilling the desire of
possession through the victorious race: sweat, fatigue, and, again, the luxury perpetuated
in the same gold that inebriates and trick the senses. Male or female, or the
opposites, or the same: exchanges and seals of assumed and rejected complicity,
side-by-side, not naive or devoid of reflected senses.
This collection is not naive;
it is not simply provocative; it is also erotic, stimulating, seductive, and
sensually sensitive to the eyes of the Pure Soul. For people who are able to
come out with no taboos of infamous mediocrity to be the animal that we are
made of or created from.
Dark matter that precedes the
Light. Symbolic of the Apocalypse, or Fiat
Lux, as chromatic precedent to the Creation. The genesis and fruition of an
artistic fertility as the dark clouds that will fertilise the Earth, the impregnated
element characterized by the supreme gift of creation: The Wolf & the Fox;
The Fox & the Wolf; The Goat; The Pig; The Tiger; The Deer!
Masked
Ball!
While listening to Jocelyn
Pook, Flood, I refer to the masks that play a double role: to hide/to disclose.
That is, I understand the need, in the present day urban life, by the Human
Being to be confronted by old myths, which are reinterpreted in a media-ridden
reality, as ways of being, thinking and feeling by each individual as a
demiurge, who promotes his/her performance on the stage of Life and of the
everyday out of his/her longings.
Paraphrasing Susan
Sontag, in Regarding the Pain of
Others, “The photographer’s intentions do not determine the
meaning of the photograph, which will have its own career, blown by the whims
and loyalties of the diverse communities who have use for it.” So it is with
symbols or parables, in this case, photographs as allegorical narration, which
involves a moral precept: Animália with the function of illustrating the desire
and complicity in a metaphorical language for the creation of pleasure and
recreation. But without idolatry. Nothing but the language of mankind!
Animália!
Reproaching
of the prelude?
Under the aegis of the gold:
the Wolf, lust, and ambition, animal of Power, with enormous capacity to love,
but with an individualistic and solitary character; the Fox, cunning and fire devil,
and with unique skills of seduction, in China they are voluptuous animals (fun
fact: the macerated testicles of fox added to wine were considered to be an
unfailing love elixir) and in Asia they are erotic symbols; the Goat,
associated with lust and fertility, is connected to Pan, Dionysus and Zeus; the
Pig, for Catholics is a symbol of temptation and lust, unclean to Jews and Muslims,
but it is also associated with fertility and prosperity in Ancient Egypt and in
the North of Europe; the Tiger, fiery and passionate, represents beauty, vanity
and cunningness; the Stag, emblem of the sun, of fertility, with a strong divine
symbolism, with its antlers representing the Tree of Life and regeneration, as
sexual fervour stands next to Aphrodite and Adonis.
I finish my dissertation on
this photographic ensemble of the works that compose the Animália collection,
by Nuno Horta, with the onomatopoeia:
PUM! – eyes wide open,
because we are animals… and why not? – PUM! – hunter or prey? – PUM! – because
it is worth to fall! PUM! Animália! PUM!
Enough pum enough!!!
Hurrah for Love, hurray! PIM!
VIEIRA
DUQUE
October 2015"